O "milagre" que tarda


No início da crise Covid, os governos do Sul da Europa embarcaram na propaganda da OMS, ONU e demais instâncias mundiais com a segurança de que de seguida viria ajuda macro-económica para lidar com a loucura e consequências económicas dramáticas óbvias dos lockdown. 

António Costa e Marcelo, os dois grandes responsáveis pela nossa quebra do PIB em 2020 - que nunca será de 8% tal como anunciado pelo governo, nem 10% como anunciado pela UE - mas sim algo em torno dos 20% fiaram-se no que se anunciava como um novo "plano Marshal". Tal como fizeram os espanhóis, os italianos e os franceses. Confiaram no "milagre" que aí viria. 

Afinal, e dado o tempo que passou (estamos em Julho e agora tudo pára na UE) sem um acordo definidor nas instâncias europeias, o horizonte fica muito pouco seguro para os governos do Sul. 

Parece cada vez mais claro que o que virá não compensará o abalo apocalíptico nas contas públicas e dos privados portugueses, italianos, espanhóis ou franceses. Simplesmente não há dinheiro nas economias nórdicas para compensar quedas entre 10 e 20% nas economias de Sul. Trata-se de uma bail-out grande demais para ser suportado.

Se nos recordarmos da crise da dívida grega e italianas de 2010/2011, podemos calcular que os limites da "solidariedade" nórdica já nessa altura estavam atingidos. 

O Euro foi ancorado em princípios rígidos (já largamente não cumpridos) por motivo de protecção da economia alemã, in primis e esse princípio continua válido. 

Nem os alemães, holandeses ou outros estão abertos a subsidiar abundantemente os estados do Sul, nem isso seria desejável do ponto de vista de crescimento económico do Bloco. Mesmo considerando que muitos dos fundos que viriam seriam depois absorvidos pelas economias nórdicas, principalmente em pagamento de bens e serviços nos grande projectos de investimento que, por exemplo, em Portugal já se perspectivam (sem haver um cêntimo disponível para os levar a cabo). 

Os socialistas não conseguem imaginar uma economia a desenvolver-se sem a mão do estado a "distribuir" a riqueza. Claro que planos como os que anunciaram agora, da autoria da neo-esperança do keynesianismo lusitano, Costa Silva, são muito convenientes do lado de quem desenha, gere, e decide para quem vão os fundos. E os socialistas são especialistas em negócios de estado. Um pequeno detalhe. Enquanto sempre, invariavelmente, nos vamos afundando em mais dívida e menos PIB per capita.     

Essa falta de decisão  quanto aos montantes e modalidades dos fundos pós-Covid é algo que me parece proporcionar muita esperança. 

Suponho que o melhor cenário para o futuro de Portugal seja um em que o estado tem de sofrer pesada austeridade e ajustar a sua despesa às receitas possíveis. 

Naturalmente tentarão tudo o que puderem no sentido de aumentar a carga fiscal. Naturalmente também, o sector privado será muito sacrificado. Porém o futuro em que os socialistas não têm licença para progredir nos gastos (chamam-lhe "investimentos" e planos para a década) de estado parece-me melhor para todos. Até porque o dinheiro vindo da UE será em míngua face às necessidades sempre crescentes do estado socialista e, à austeridade, não nos eximimos - de certeza e jamais.

Assim sendo, oxalá não venha nada de substancial e Costa e Marcelo tenham de gerir o país com o que há (ou não há).

Azar dos Távoras para os socialistas. Talvez seja a nossa sorte daqui a 10 anos.      

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