Se não conheces o inimigo nunca o poderás enfrentar


Sabemos que pedir receitas a um individualista sobre a vida de outros indivíduos tem tudo para não dar resultado. Pelo menos no meu caso, apenas sei e incompletamente, pois vivo cheio de dúvidas, sobre a minha vida e o que me afecta directamente. Isto inclui toda a minha família e grupos sociais, claro. Um individualista não é um atomista. 

Porém, parece-me óbvio, e pegando na frase que deu o mote ao post anterior: "Por exemplo, eu não tenho ilusões sobre a derrota cultural do Liberalismo." que estando nós envolvido em grupos no qual até temos pouco poder de influência (o país, ou nação, ou o Mundo, como exemplos) de algum modo, mesmo à nossa ínfima escala temos poder de influência. 

Se devemos exercer esse poder de influência depende claro está de decisão individual. Parece-me perfeitamente legítimo dedicarmo-nos às churrasqueiras ou ao solipsimo. No entanto, quando o fazemos perdemos a legitimidade para nos queixarmos do que nos pode vir a afectar oriundo dos grupos grandes referidos anteriormente? 

Provavelmente sim. Pelo menos quem nos ouve poderá sempre dizer: "pá, antes de te dedicares ao niilismo, dedica-te a pensar sobre a responsabilidade que tens ou podes vir a ter no mundo". E essa responsabilidade pode ser exercida de inúmeras maneiras. 

Por exemplo, os manifestos nas redes sociais podem ser perfeitamente um modo de intervenção. Quem tem o dom de escrita corrida e compreensível pode sem dúvida criar reflexão e mudança nas mentes dos leitores. E isso é um modo de intervenção. Quantos mais o fizerem mais influência sobre os grupos maiores se terá.  Isto soa-me a la palissada mas deveria dizê-lo.

Voltando ao caso dos liberais lusitanos:

Até 2011 os liberais prestaram serviços de enorme relevância à sanidade mental geral. Era nos blogs que se lia muita da reflexão que  depois transitava para os jornais e restantes media. Alguns liberais conseguiram mesmo ascender ao destaque e foram absorvidos pelo mainstream. Que lhes aconteceu? Todos os que ascenderam (ou, melhor dizendo, como disse Mario Monti ex-primeiro-ministro italiano,"descer à política") se converteram ao regime ou foram corridos da política. Relembro, a título de exemplo o discurso de Michael Seufert no 25 de Abril. 


Foi um discurso notável, saiu do fundo do peito (via-se) e disse imensas coisas (faladas e não) a quem o ouviu. Foi das últimas vezes que apareceu. Não sei se "triturado" pelo sistema, mas o Michael sumiu e agora é mais um anónimo. 

Já antes os liberais tinham feito um serviço prestimoso ao ajudarem a eleger Passos Coelho (indirectamente, claro) pois os blogs de liberais fizeram a melhor parte da oposição a Guterres e Sócrates. 

Porém, aparentemente, ou estavam iludidos desde o princípio, ou por algum motivo deixaram de seguir a realidade. principalmente a externa/internacional. Deixaram-se sugar pelo vórtice mediático português? Perderam de vista as leituras fundamentais para compreender o mundo político globalizado? Não sei. O que sei é que derivaram completamente do objectivo adversário que tinham antes para um imaginário adversário internacional imposto, claro, pela narrativa dos nossos e dos media internacionais. 

Deixaram de conseguir acompanhar o que se passa lá fora, as suas razões de acontecimento e, simultaneamente deixaram também de perceber algo que a esquerda faz de modo sistemático. A esquerda lusa (mentecapta e incapaz como é tradicional - esperta apenas para a aldrabice) copia todas as suas agendas ideológicas do estrangeiro. Repara: já assim foi no 25 de Abril (russos e americanos, uns com o PCP e demais partidúnculos de esquerda, americanos com o PS e PSD). Foi assim também com o Bloco de Esquerda que foi importar as técnicas de guerrilha política dos franceses pós Maio de 68. Muitas viagens internacionais se fizeram entre Portugal e França e outros países nos anos quentes. 

E essas viagens não pararam. Nunca. Agora tudo transita via Twitter, Facebook, Zoom e etc, mas não tenhas dúvida que a nossa esquerda não dá ponto sem nó estrangeiro. Eles são internacionalistas e já se sabe que quando vemos acontecimentos perturbantes da sociedade oriundos da esquerda eles acontecem também em Portugal passados uns meses. É apenas terem o tempo de se organizarem.

Esta compreensão do espírito que anima os nossos esquerdistas (nossos verdugos permanentes e parasitas) terá passado completamente ao lado dos liberais que se mantiveram paroquiais. 

Uma breve passagem pela Iniciativa Liberal: para se fundar, o esforço primário foi encomendado a um estrangeiro e a força e financiamento vieram da ALDE (uma organização de liberais à americana, logo de esquerda).   

Mas, e para concluir, reforçando que todos os meios de intervenção são válidos (na tal receita) uma coisa é fundamental e os liberais lusitanos não o fizeram. Lá fora, a direita e os liberais-clássicos, fruto da disponibilidade da Internet, conseguiram um feito extraordinário: vulgarizar o conhecimento de como foi construído culturalmente o mundo de esquerda pré-Revolução francesa (sim vai assim tão longe o conhecimento da História Revista) e pós Marx. 

É conhecimento comum - por exemplo - entre a direita internacional que Trotski foi financiado por americanos do Partido Democrata (aqui na Amazon) e que estes tinham a intenção de implementar a Revolução Russa, matar o Tzar e colocar Lenine e Trotski no poder. Isto é fundamental para o fim de sabermos contra que forças estamos a lidar em Portugal. 

Que fizeram os liberais? Não leram, não se informaram, ficaram no mainstream da informação produzida pela esquerda (são atentos leitores dos órgãos oficiais NYT e FT do partido democrata americano) e perderam a guerra de informação. Ou seja, antes de perderem a guerra cultural, ficaram sem meios de comunicar aos portugueses algo que fizesse sentido (ressoasse) para a compreensão do mundo actual.     

Se não conheces o inimigo nunca o poderás enfrentar.

E os manifestos sairão vazios de verdadeiro conteúdo. A verdade tem a aborrecida característica de ressoar.

Ou então, não (o que me parece difícil) e os liberais lusitanos são mais uns esquerdistas tal como a restante social-democracia lusa. Talvez seja por aí. Mas, a ser, ainda bem que se auto-extinguiram. De qualquer modo votariam:

1. Hillary Clinton
2. Macron
3. Haddad

Isto assumindo, claro, que os nossos liberais-clássicos - nas sendas de Hayek ou Mises e outros - sejam ainda anti-comunistas. Considerando o apoio do Partido Democrata americano aos candidatos listados antes parece estranho e faz muito pouco sentido. Certo?

Deixaram de lutar contra o verdadeiro inimigo pois deram-lhes um amigo imaginário.

Não deixemos que a esquerda faça o mesmo aos nossos Filhos. 

Obrigado pelo teu tempo. Abraço.

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