É A DEMOCRACIA, ESTÚPIDO


Para a esquerda, as figuras de estilo da direita, por mais inócuas que sejam, até mesmo uma simples piada numa rede social, configuram sempre um inaceitável discurso de ódio. Já o discurso de ódio dos seus aliados, como o Sr. Bá, e como se verificou esta semana, por mais violento ou odioso que seja, representa  apenas uma figura de estilo, ou um bondoso discurso figurado. 

Este duplo pensar, numa espécie de incoerência incontinente, sempre latente, permanentemente por detrás do discurso da esquerda identitária, incluindo a “jornalística”, é profundamente revelador para qualquer um da hipocrisia, da desonestidade, do ódio, essas sim as verdadeiras características desta nova esquerda proto-totalitária que através do Estado, da intimidação, da histeria das redes sociais, sonha comandar uma nova ordem e um novo sistema ao qual todos nos “deveremos” submeter. 

No fundo oferecem, ou prescrevem, uma nova moral, mesmo que oportunista: tudo o que eles fazem é bom, tudo aquilo que os seus adversários fazem é mau. Faz como eles te dizem, és bom; se não fizeres como eles te comandam, és mau.

Mas essa moral que pretendem impor é tão falsa quanto os seus argumentos; tão fuinha, reles, videirinha, como ressentida, peçonhenta e odiosa. E a incoerência dos seus argumentos apenas causa na população uma sensação latente de injustiça perante o descaramento de quem se arroga a ser arauto moral, mas arauto de uma moral que não é a nossa, muito pelo contrário, não passa de uma conveniência política que, precisamente por ser assente em desonestidade intelectual, é ela própria imoral.

Concomitantemente, nunca coisa tão negativa, tão rancorosa, detestável, execrável, abominável, poderá ser verdadeiramente popular. Muito pelo contrário: à maior parte da população, a política identitária não impõe qualquer autoridade, obediência, assentimento, apenas repúdio, repulsa, rejeição, sejam estas mais ou menos públicas, mais ou menos resguardadas. O carácter ignóbil e imoral dos valores que se pretendem impor — a desigualdade racial, o todos contra todos — não escapa ao espírito popular precisamente porque lhe ofende o seu quadro moral: são desonestos, injustos, desequilibrados, pretenciosos, arrogantes, mentirosos.

A nova esquerda semeia ódio e, salvo conseguir impor pela força a sua nova sociedade e o seu novo homem, mais cedo ou mais tarde colherá tempestades. 

André Ventura já percebeu isto, por exemplo. E quanto mais os centros políticos ignorarem este vil ataque da esquerda identitária à ordem liberal — como seria a vontade da “direita” liberal internacionalista dos manifestos — mais o apoio popular a Ventura crescerá.

Também aqui o ataque da esquerda é desonesto: Ventura, por exemplo, é sempre fascista, racista, xenófobo, na forma (ou seja, nas figuras de estilo) mesmo que simplesmente, como na maior parte dos casos, advogue apenas a igualdade perante a lei. Mas a igualdade perante a lei é a base da ordem liberal! E logo aí o argumento cai pela base: afinal, quem defende melhor a ordem liberal, aqueles que advogam a igualdade perante a lei ou aqueles que exigem a quota, a discriminação (mesmo que positiva) sexual ou racial? O bom senso sabe muito bem a resposta para esta questão.

Daí que aos advogados da ordem liberal, os verdadeiros, entre Ventura e a esquerda identitária não deveriam assolar grandes dúvidas. Goste-se ou não do estilo, concorde-se ou não com as soluções (não aprecio o estilo, não concordo com a maior parte da soluções), os verdadeiros adversários da ordem liberal são aqueles que conspiram contra os princípios fundamentais das democracias liberais, com a igualdade perante a lei à cabeça — e não forçosamente aqueles a quem a esquerda identitária desonesta aponta o dedo.

Mas o povo sabe bem, daí a popularidade do fenómeno Ventura: para além do repúdio generalizado à agenda identitária por parte da população, é o sucesso da imagem da simplicidade, honestidade, verdade, do agente político solitário, vendido como herói, que revela, com a candura da criança na fábula do “Rei vai nu”, o logro, a malvadez, a perversidade da agenda da esquerda identitária. 

Mal estará, portanto, a democracia portuguesa quando o papel de antagonista à perfídia neo-marxista da esquerda identitária fica reservado para Ventura. Apenas lhe poderá garantir o sucesso. Pior: quando com os seus manifestos e as suas posições “politicamente correctas” parte da própria “direita” não apenas deslegitima Ventura como, junto com ele, repudia, destrata, desqualifica os seus eleitores. Tal como nenhuma empresa tem sucesso afugentando consumidores, também nenhum projecto político será vencedor alienando e ofendendo potenciais eleitores  

A reacção epidérmica ao centro e à direita às inaceitáveis declarações do Sr. Bá deverão servir, pois, de aprendizagem ao centro-direita e guiar os seus dirigentes políticos como um farol: ou compreendem rapidamente que é preciso enfrentar a esquerda identitária, denunciar a sua desonestidade, derrotar as suas intenções autoritárias e iliberais, ou então o centro político será a seu tempo engolido por aqueles que se resolverem a assumir essa guerra. 

A guerra cultural, moral, identitária está aí, quer se queira quer não. E o povo ainda é quem mais ordena.


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[Photo by Element5 Digital on Unsplash]


Comentários

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