Na altura certa faremos as contas


A paralisação da economia nacional deve terminar o mais rapidamente possível. Chegámos ao ponto em que o medo e o pânico impedem a lógica e a análise dos fatos, sendo provável que os danos causados pela reacção exagerada à pandemia de Covid-19 venham a ser maiores que o número de mortos da própria doença. O vírus não pode ser contido e a nossa tentativa de alcançar o inatingível torna-se a cada dia que passa mais ineficiente.

O Covid-19 não está a ser tão mortal quanto se imaginava. Em 16 de Março passado, um grupo de investigadores do Imperial College em Londres previu 510.000 mortes no Reino Unido e 2,2 milhões nos EUA. Para Portugal a previsão deste Instituto era de 3800 mortes numa primeira vaga. Num cenário com medidas mais ligeiras de distanciamento, quando a epidemia chegasse ao fim, os números poderiam rondar as 17 mil mortes. Sem medidas de redução do contacto, chegariam a 74 mil. Todos nos lembramos do licenciado em Física e doutorado em Matemática Jorge Buesco que apresentou números verdadeiramente catastróficos para Portugal. Como diz o André Dias “no início de uma epidemia os primeiros números são ruido” Foi com base nestes números e modelos que os políticos agiram. Não os censuro, mas já é tempo de perceberem que erraram e que vão ter de o assumir, revertendo rapidamente o que fizeram.

Hoje percebemos que todo este estado de reclusão que tantas liberdades nos retirou foi excessivo. Enquanto escrevo, a estimativa de mortes por Covid-19 nos EUA é de cerca de 60.000 muito perto das 61.000 pessoas que morreram de gripe comum durante o Inverno de 2017-2018 nesse pais. Em Portugal temos neste momento 735 mortos com uma média de idade de 80 anos. Morreram de gripe em 2018/ 2019 cerca de 3300 pessoas e em 2017 /2018 3700 pessoas!

Apesar disto continuamos a sofrer um estado de emergência, já renovado por duas vezes, cuja imposição foi justificada por uma previsão falaciosa dos modelos.

A disseminação do vírus é inevitável e é necessária. É necessária porque, na ausência de uma vacina, a única maneira de combater a doença é criar imunidade na população, a chamada imunidade de grupo. Uma pessoa que contrai a doença e recupera torna-se imune. Contágio e recuperação são, neste momento, a vacina mais eficaz possível. Só que esta quarentena vai prolongar a pandemia não deixando a imunidade de grupo acontecer. Quando o distanciamento social começar a diminuir, como acabará por acontecer, a doença simplesmente tomará o seu curso determinístico difundindo-se pela população e provocando novas vagas da doença. O achatamento da curva não reduz a área desta.

A 3 de Março passado, a Organização Mundial de Saúde´estimou a taxa de mortalidade para o Covid-19 em 3,4%. Agora sabemos que essa estimativa inicial era muito alta porque o teste era limitado a indivíduos que apresentavam sintomas graves. Posteriormente, testes mais extensos descobriram que mais de metade da população infectada é totalmente assintomática e que a taxa de mortalidade correspondente é de aproximadamente 0,1%.

O que se pretende com o confinamento, com esta prisão em casa “pelo bem comum“, não é reduzir a mortalidade, mas achatar a curva para que as unidades de saúde e as UCI, não sejam sobrecarregadas. A taxa de ocupação dos cuidados intensivos em Portugal está nos 54%, sendo que neste momento o número de internados por Covid-19 em cuidados intensivos corresponde a apenas 1% de todos os infetados. Objectivo alcançado. No entanto, se é um facto que os indivíduos que precisam de cuidados intensivos serão salvos por esta estratégia, já a redução da mortalidade em números absolutos será pequena. Que se defendam os mais frágeis e os com maiores probabilidades de contrair a doença faz sentido. Parar a vida de todos porque não se sabe como confinar verticalmente os grupos mais sensíveis é inaceitável.

E que dizer daquela ideia notável de que alguns negócios são "não essenciais"! Numa economia de mercado, todo o trabalho é essencial. E todo trabalho é certamente essencial para quem depende dele para a sua subsistência. Numa pandemia é sensato proibir eventos de massa de centenas ou milhares de pessoas. Mas os governos impuseram restrições que não fazem sentido e tivemos nas últimas semanas, 353 mil desempregados e mais de 900 mil em layoff. O Banco de Portugal estima de forma optimista para este ano uma queda do PIB de 3,7% a 5,7 % e o desemprego a subir para valores acima de 10%. Vai ser garantidamente pior.

Ironicamente, no meio desta epidemia, os hospitais em todo o país estão a funcionar muito abaixo das suas capacidades devido à falta de pacientes. Porquê? Porque as autoridades de saúde - para além de terem assustado as pessoas com o seu discurso de apocalipse - orientaram todos os procedimentos médicos para que pudessem estar preparados para receber pacientes do Covid-19 que não chegaram nem vão chegar. Como estarão os portugueses com outras patologias ? Com outras doenças ? O que é que vamos encontrar quando tudo isto terminar ?

No nosso pânico pandémico ao Covid-19, parece que esquecemos que uma economia robusta suporta o serviço nacional de saúde de que tantos dependem, a educação de que tantos precisam, a segurança de que tantos se orgulham, a construção e a manutenção de infra-estruturas, as grandes, médias, pequenas e microempresas, os pequenos negócios locais, os serviços no sector do turismo que tão importantes são para Portugal. Em síntese, é a economia que mantém a sociedade a funcionar. O preço da indução artificial da pobreza pode exceder as vidas perdidas pela doença. Como li algures, salvo erro num post do blog “Insurgente” “não há sistemas de saúde robustos sem economias saudáveis. Portanto, a ideia de que estamos confrontados com uma escolha entre “vida” e “economia” é uma falácia do raciocínio, motivada em grande parte por razões ideológicas.”.

A solução do governo, para a fase pós-COVID será baseada em gastos maciços de dinheiro emprestado, impostos e dívida empurrada para o futuro e paga pelos nossos filhos e netos. A prosperidade vem da produção, não dos gastos, empréstimos e tributação. Ficaremos assim mais pobres do que já somos.

Estamos a caminho da maior acção de empobrecimento que Portugal já sofreu por iniciativa de um governo. Esse caminho tem de ser revertido rapidamente deixando a economia funcionar normalmente. Nem todos sofrerão esse enorme empobrecimento pois alguns estão sempre a coberto destas tragédias. Mas uma coisa é certa, essa acção terá responsáveis e os responsáveis têm nomes. Na altura certa faremos as contas.

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