O Poder da palavra - Não -

 

Ao contrário do que possa parecer consensual, em democracia o maior poder que temos não é o de escolher os governantes. O maior poder é o de - escolhermos quem queremos retirar do poder -.  Como exemplo, dou o caso de Oeiras e de Isaltino. Isaltino não está no poder há vários anos, e apesar das tropelias que lhe são conhecidas, porque os oeirenses votaram nele. Está no poder porque os oeirenses - não  deixaram de votar nele - ou votaram noutro, provocando a sua saída. 

Este conceito, de “punição” pela retirada do poder delegado pelo povo, está identificado desde a antiguidade clássica e resume-se à Espada de Damócles. 

Na lenda de Dâmocles a espada erguida sobre a testa  do governante implica a fragilidade que vem com o poder. Em democracia essa fragilidade é criada pela possibilidade de o povo provocar a queda do mesmo governante via descontentamento, insatisfação e desagrado. 

É a maior garantia que pode haver de moralidade, probidade e quase-certeza em como o governante não incorre em demasiadas ações daninhas contra o povo. Um incentivo à boa governação e uma segurança de virtude pública. 

Nas sociedades modernas os governantes usam todos os meios possíveis para evitar a queda da espada mas, apesar de irregularidades ou ilegalidades que possam fazer com o exercício do poder, a mesma espada está inevitavelmente suspensa sobre as suas ações via julgamento popular das mesmas.

E é esta espada que os políticos mais temem. E que neste momento (talvez como sempre) mais tentam impedir que penda sobre as suas “cabeças”. O nosso poder para “correr com eles” é essencial em democracia. O poder de simplesmente dizermos - “Não!” - e substituirmos o(s) governante(s). 

O mesmo poder do - Não - é válido em inúmeras situações de vida. Sendo a maior parte das escolhas que se nos apresentam binárias, entre a aquiescência do “Sim” e a negação do “Não”, está a nossa capacidade de escolha democrática. E essa escolha afirma-se pelo voto.

Alguns defendem que o jogo do voto é inútil. Na lógica de “são todos iguais”; “tanto vale uns como outros”;  “é tudo inútil e nada conseguimos mudar”. 

Tal conceito é uma ilusão e uma armadilha apreciada exactamente por aqueles que mais querem bloquear a Espada de Damócles. Se todos os políticos forem iguais, se a indiferença  relativa a quem exerce a delegação do poder popular reinar, então os poderes mais daninhos reinarão sempre. 

Sim. Os políticos tendem a ser mentirosos, corruptos, enganadores e manipuladores. Sim, a política é um jogo que tem muitos aspectos nada nobres. Mas, em cada momento histórico há pessoas bem intencionadas que partem (a muito custo pessoal algumas vezes) para a política e se arriscam nesse ambiente hiper-competitivo que a política não pode, nem deve deixar de ser. 

Reconhecermos quem são esses novos políticos, interpretarmos e acompanharmos o seu trabalho é um esforço grande. Que não pode deixar de ser feito. Que deve ser feito com plena consciência do impacto futuro da nossa decisão. Naquela pequenina decisão que se consubstancia na urna - um homem, um voto -. E que pode parecer insignificante. Mas não o é. Nada tem de pouco importante. 

Recorde-se: a mão que empunha a Espada de Damócles é a sua e a democracia é sempre, o pior sistema exceptuando todos os outros. Que ainda são piores. 

Domingo, saia de casa e vá votar.    

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